sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mudaram as estações. No fim, nada mudou.

Sexta, 20 de Maio
Querido Leitor,
Nada como os amores de Verão. Eles começam no nascer de um dia ensolarado na praia e geralmente, se vão quando as malas ficam prontas e dizemos o velho: ”Foi bom te conhecer”. Ele foi um desses amores que ascendem ao passo da estação mais quente do ano e se transformou em uma das melhores lembranças pra se guardar. Eu me lembro dos seus gestos tão controlados e das frases bem pensadas, da timidez instigante que contrastava com seus olhos insinuantes e de pouco pudor. Aquele sorriso de canto de boca que deixava tanta coisa escondida em entrelinhas que me enchiam de ideias perversas. Ele era bonito. Uma beleza morena sem holofotes, daquelas que chamam a atenção sutilmente, apenas dos bons observadores. E eu poderia me perder no meio daquela beleza toda, tão perspicaz, tão sólida, tão embriagante. Mas a beleza pode até ser regra em amores veronescos. Ele era mais que beleza pra mim. Era uma incógnita que eu queria muito decifrar. Não sei se era o signo, o nome, os gostos unânimes, ou simplesmente o timbre da sua voz tão masculina e segura, que me faziam devanear, e até pensar em futuro. O que eu sei é que o destino é mesmo algo misterioso. Nos apresentou naquela noite quente de um jeito nada convencional, nos deu de presente um lindo amanhecer do alto de um penhasco pra compartilharmos juntos, e assim, colocou em nossa memória uma bela  história em forma de beijos, poesias e canções impossíveis de serem esquecidas. O que esquecemos, na verdade, era que isso era apenas um amor de verão, com prazo de validade. Porém aquela história condicionada por anéis em troca de beijos durou mais que uma estação. Mudou-se o tempo, várias luas cheias passaram. E essa nova temporada não era quente, mas era bem aconchegante como toda paixão que se transforma em amizade, em cumplicidade. Nos valemos desse cair de folhas para permanecermos juntos de uma forma pitoresca, assim como os Outonos são. Comemoramos nossos aniversários, trocamos cartas, nos aconselhamos mutuamente nas nossas outras relações e ficamos bem assim. Veio o Inverno e as tempestades e ventanias nos afastaram drasticamente, uma ruptura abrupta e violenta. Foi a estação que mais tardou passar. Uma Odisséia.  Eu trançava o meu bordado de dia, e desmanchava de noite, esperando a temporada das flores chegar. Regava o meu jardim com a esperança de tê-lo de novo, quem sabe numa outra estação. A Primavera veio, e com ela, a maturidade e a aceitação. E eu já não esperava mais, e nem culpava as estações por bagunçarem minha vida. Eu aprendera que elas eram circunstâncias incontestáveis de um calendário superior. Mas qual não foi a minha surpresa, minha paixão veronesca voltou, assim que os raios incidiram de novo sobre a terra, anunciando a melhor estação. O sol bateu na janela do meu quarto trazendo com ele as lembranças daqueles nossos dias quentes bem vividos. No Verão tudo volta. O sol, as andorinhas, as marcas de biquíni, os amores extraviados no Verão passado.
Com nostalgia e afeto, 
P.