segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Fumaça não é vapor de água.




Mais de 230 pessoas mortas numa boate em Santa Maria. Causa da morte: fumaça. E ao saber do ocorrido, como todos os brasileiros, eu senti. Pelas famílias, pelos amigos, mas principalmente pelas vítimas, fumantes ou não, que tiveram suas vidas interrompidas por causa da fumaça. Não morreram queimadas, ou pisoteadas, pelo menos não a maioria. Morreram asfixiadas pela fumaça.

Porém elas não foram as únicas a morrer desse jeito estúpido. Mais de 200 mil pessoas morrem por ano no Brasil cheias de fumaça, é uma média de 23 pessoas por dia. E o que é pior: Elas morrem conscientemente, é praticamente um suicídio em massa, como aqueles que acontecem do outro lado do mundo.

Todo dia, vejo amigos meus se matando, inalando mais de um milhão de toxinas embaladas e vendidas baratinho em qualquer esquina. Todos nós sabemos do suicido, somos cúmplices, mas ninguém toca no assunto, nunca.

O vício pelo cigarro é o dos mais egoístas e estúpidos. Ele envolve quem fuma, quem tá perto, quem ama a pessoa que fuma, quem depende dele.   É um pai que encurta a convivência com seus filhos, é um parceiro que não liga em deixar sua mulher viver sozinha, é um amigo que só pensa em aproveitar a noite.

É a vida resumida a um monte de fumaça, como na tragédia em Santa Maria. São nossos amigos morrendo lentamente do nosso lado enquanto acendem um cigarro e conversam tranquilamente sobre o clima.

São pessoas que começaram porque algum amigo ofereceu, depois passou a achar legal, só em festas, depois de alguns drinks, nada demais. E sem perceber, foi até a esquina e comprou sozinho um maço de cigarros, que fumará durante a semana, que depois será de dois em dois dias. E quando menos se dá conta, não fica mais sem.

E ai encontra motivos: Pra não se sentir só, pra acalmar, por terapia, por ócio, por vontade, por costume, e em pouco tempo, por necessidade.

E como é triste ver a fumaça cinza encher o ambiente de morte e escancarar o seu poder destruidor pelo ar. A fumaça faz lembrar do quanto somos inúteis diante das fatalidades, e também diante das tragédias anunciadas e completamente previsíveis. A fumaça tomou conta de Santa Maria, e vive tomando conta das rodas de amigos, dos bares, das ruas, das casas. Só que disfarçadas de risos, de música boa, de conversa animada. Pode observar, quase sempre ela está presente, mostrando que é só questão de tempo até ela tomar conta de tudo. Fumaça não é vapor de água, é anúncio de que há fogo.