quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um brinde às garotas que viram mulheres.

                                       Quarta, 20 de Abril.
Querida V,  



Eu tinha uns quatorze, quinze anos. E ele era quatro anos mais velho. Hoje, isso não tem muita importância, mas naqueles tempos era uma diferença abissal. E principalmente porque eu jurava que o amava. Mas na verdade, você ama quase todo mundo com essa idade, e no meu mundo eu me lembro de querer ser mais velha pra tentar fazer com que ele notasse o quanto eu estava apaixonada. Tornamos-nos amigos e nos falávamos toda noite, ritualmente, por horas, sobre nossas vidas, nossos planos, e também muitas banalidades. E na minha cabeça, éramos mais que amigos, já estávamos um na vida do outro, sentíamos necessidade de contar pro outro como foi o dia e ouvir as novidades por telefone. Ou pelo menos, eu me sentia assim. E tudo começou quando em uma dessas nossas conversas, eu me declarei. Ele disse que já imaginava, e que a gente podia se encontrar qualquer dia. Encontramos-nos, eu fantasiando que tudo ia ser mágico, ele... ele do jeito que sempre foi. Certamente eu estava com expectativas demais, e me decepcionei quando nos beijamos friamente e ele continuou falando sobre um professor que o deixava em paz. Fui pra casa triste, porém não vencida, afinal, eu tinha conseguido o que eu queria. Depois daquele dia, tudo continuou igual, não nos beijamos mais, ele definitivamente não olhava pra mim do jeito que eu gostaria. Tudo chegou ao ápice quando em uma de nossas conversas ele disse que eu era criança demais pra ele. Com o orgulho ferido e os sentimentos dilacerados, fui forte o suficiente pra primeiramente explodir em raiva e dizer tudo aquilo que as pessoas desiludidas dizem ao cair em si, e segundo e mais difícil, tirá-lo da minha vida e do meu coração. Eu tinha levado um banho de água fria, mas me recompus por dentro como só as mulheres conseguem fazer. Eu o superei. Depois disso não nos falamos mais. Eu, por um ódio mortal que se transformou em indiferença, e ele por vergonha, talvez. Fui viver minha vida com mais uma lição aprendida e mudei. Deixei aquela “criança “ ingênua pra trás. Conheci outros caras mais interessantes e vivi muito bem assim todo esse tempo. Até que ele resolveu voltar, me pedindo perdão e se lamentando pelo tempo que perdeu longe de mim. Eu sempre imaginei que isso um dia iria acontecer, só não pensava que minha reação seria tão passiva quanto foi. Eu o perdoei, apesar de já ter feito isso quando o esqueci. O que eu senti? Eu me senti vingada, mas até a vingança tem um prazo de validade. Aquele cara que na época me parecia tão superior, agora era só mais um cara que viu o quanto chamava a atenção. O quanto eu tinha me tornado mais bonita, segura, cheia de amigos, o quanto eu tinha crescido. Ele viu que perdeu algo que no passado ele tinha nas mãos e não soube dar o devido valor. Agora o que restou pra ele foi admirar de longe e ver o quanto o passado é cruel quando volta pra nos cobrar aquilo que fomos. A menina que ele já ouviu dizer que o amava agora era uma mulher que ele só vê de longe, de fora da sua vida.

Com doses revanchistas,
P.

domingo, 3 de abril de 2011

Encontro o amor e depois perco

Domingo, 03 de Abril
Querido Leitor,



Encontro o amor em todos os lugares em que me acho
Me perco entre seus dedos brincantes , suspiros insinuantes , catracas a me limitar.
Seus olhares furtivos, chamegos definhativos, lençóis que me enlaçam.
Me dou pro amor e torno-me nele um escravo, que acha gozo em preso estar.


Acho o amor e nele me perco
Pra ser aquilo que o amor quer que eu seja.
Torno-me amante louco, exacerbado, exagerado e delirante
Me enrosco entre os seus cabelos, e perfumes, e sabores afrodisíacos
até me encher, esborrar e saturar com o seu efeito viciante


E, de tanto amar e em amor me dar, perco o juízo
A razão, o fio da meada do entendimento de mim
Esqueço da hora, dos amigos, das contas pra pagar
O leite no fogo, o trabalho, aquilo que há pra gastar
E me esqueço quem eu era, deixo a minha vida passar, me perco de mim.


Encontro o amor e depois perco, Peco de tanto amar
E de tanto amor que dou, ninguém consegue
Amor demasiado assim também me dar
E por amor eu peco, me deixo de lado, amo aquilo que for
E depois de me perder, perco também aquilo que eu chamava de amor.

Com desistências minhas,
P.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Murmúrios de um cético amoroso

Sexta, 01 de Abril
Querido M,





E quando você pensar
Que tudo é arriscado demais
Pra um coração que não quer amar
Se lembre dos olhares confidentes, e das paixões que deixou passar


Se lembre do prazer de um par de mãos andando juntas
E das confidencias perversas que podia compartilhar
Das tardes monótonas de quarta feira
Que passaram sem você olhar


O tanto de coisa que você perdeu
Achando que não sofrer é o melhor remédio
Pra alguém que no fundo desejou,
e em face ao tudo se entregou ao tédio


Talvez seja melhor andar sozinho
Nessa estrada de meios termos
Onde nada parece completo
E você encontra tudo, menos alguém confiável pra dedicar seu afeto.


Compre uma taça de vinho e um amor que facilmente esqueça
Que no dia seguinte sobre apenas uma leve dor de cabeça
E você sinta a sensação de um nada consumidor
Pra que você perceba que melhor mesmo era sofrer, mas ter um grande amor.


Meus sentimentos, 
P.