domingo, 20 de maio de 2012

Um par.






Quero sentir de novo aquela antiga emoção de ter alguém chegando, pra ninar meu coração. Quero me arrumar toda, me perfumar, colocar minha melhor roupa pra receber alguém num sábado a noite. Eu quero sentir de novo o coração pulsar descompassado quando a campainha tocar e eu sei que é quem eu to esperando. Eu tenho sentido falta dessa coisa ritualizada que é ter alguém na sua vida. De ter alguém que ligue, que se importe, que conheça sua família, que brinque com seu cachorro, que saiba o caminho do seu quarto, que abra sua geladeira. Alguém que saiba seu telefone de cor, que você durma de conxinha, que faça cafuné, que cuide de você quando você tá naqueles dias. 

Nunca pensei dizer isso, mas eu to sentindo falta desse tipo de intimidade auto-destrutiva que a gente fabrica quando tá apaixonado reciprocamente. Eu que sempre coloquei a solteirisse num pedestal, num estado de felicidade continuo, agora tenho sentido falta de ficar em casa num sábado a noite, vendo um filme e comendo pipoca. Outro dia me peguei com vontade de sair pra almoçar com alguém num dia de domingo. Só pra bancar o casal bonitinho que sai de mãos dadas, exibindo seus corpos jovens e bem cuidados. 

As baladas estão sem graça, os programinhas em grupo tão perdendo o brilho que tinham quando eu entrei pra vida do “não devo nada a ninguém”, “to de volta à ativa”, “ninguém me segura”. É sempre do mesmo jeito, as mesmas músicas, os mesmos amigos com as mesmas conversas. Não tenho nem mais saco pra dar foras nos carinhas de boate, com suas camisas apertadinhas, seu copo de wisk na mão, com o mesmo papo de sempre, com a mesma falta de conteúdo. 

Eu quero uma risada cativa, um cheiro cativo, um corpo cativo, um aconchego cativo. Quero olhar alguém dormindo e dar um sorriso maroto de quem está satisfeito, quero me exibir por ai, de mãos dadas contando vantagem, quero a coisa telepática de saber as intenções do outro só de olhar. Quero fazer essas coisas de casais de novo, ir no supermercado juntos, ajeitar a gola da camisa, opinar sobre o sapato, reclamar do atraso, planejar viagem, brigar por besteira. Isso é amor, amor quente, como diz a música de Engenheiros. 

Eu quero uma ligação antes de dormir me perguntando sobre o meu dia, e mensagens de texto com letras de músicas bonitinhas. Quero um elogio sem vergonha e planos pras férias.  Sinto falta do contato, de falar sacanagem, de ouvir bronca e dar resposta à altura, de ciuminho besta, de comprar presente sem ter data pra comemorar. Sinto falta de ouvir um “você tá linda”, ou “adoro quando você veste essa roupa”.Sinto falta de ter pra quem dedilhar meu violão.  Eu gosto dessa coisa íntima, mesmo que só agora eu admita isso. Eu gosto da rotina a dois, e eu era muito boa nisso. Hoje eu confesso que quero ser, de novo, a metade da maçã de alguém. 


sábado, 19 de maio de 2012

Colhedor de Palavras







Eu escolho as melhores palavras do dicionário, junto-as nas mais perfeitas combinações, encho tudo de sentimento, e principalmente de sinceridade. E, como não poderia deixar de ser, as dedico a você. Talvez porque a minha inspiração depende de um objeto real, com mãos e pernas, e perfume forte de homem. Talvez porque o que você me faz sentir é o combustível para que eu crie, e escreva, e componha. Talvez porque, de alguma forma meio automática, está tudo interligado, e sem você pra me encher de sentimentos, de adjetivos, de texturas e formatos diferentes, minhas palavras não viriam, eu seria mais uma no meio desse tanto de gente que copia e cola.  Desse tanto de gente que usa palavras genéricas dos outros pra expressar seus sentimentos, tão particulares.

Eu tenho uma espécie de sentimento incondicional quando alguém chama a minha atenção, entra na minha vida e faz dela um lugar cativo. Me faz extremamente feliz ter alguém pra chamar de fonte, de cais, de porto, de lugar onde eu possa repousar todas as minhas criações cotidianas. Me faz feliz ter alguém a quem dedicar todo os meus sentimentos mais singelos, tudo aquilo que me motiva a escrever, a expressar de alguma forma o que só aquela pessoa desperta em mim.

Eu tenho uma crença ingênua nas pessoas, eu realmente acredito na pureza dos sentimentos, e talvez isso seja o que me faz plantar todo o meu carinho, e toda a minha gratidão por ter alguém a quem amar. E qualquer coisa se torna semente na terra fértil do meu coração. O olho no olho, o toque de mãos, o beijo silente e delicado que surge das mais diversas formas. Tudo é matéria pra eu me desabrochar em metáforas e rimas ricas sobre você. Só de pensar em seu abraço, e no seu jeito particular de me chamar, uma nova frase de efeito vem junto do pensamento, já ordenada, pedindo pra ser escrita. Vem em forma de partitura, cheia de ritmo, cheia de forma, de textura, de cor.

A única coisa que eu peço em troca é que você saiba colher todo o sentimento que eu te dou em forma de palavras. Não quero palavras por retribuição, eu me contento em saber que você consegue receber as vibrações que eu passo através das linhas que eu preencho sobre você. Eu quero alguém que saiba receber, que entenda a importância que tem pra mim, ao caber num texto meu. Que colha o meu carinho, o meu afeto, o meu amor dedicado com tanto anelo através das minhas frases exageradas e passionais. Eu quero que você seja minha fonte inspiradora cativa, a mola propulsora das minhas idéias, o colhedor dessas minhas palavras cheias de vertigem e loucura por você. Eu só quero que você reconheça que ninguém nunca vai conseguir fazer o mesmo, porque apenas eu planto você com vogais, consoantes, anagramas e rimas. Só eu te entrelaço no meio das minhas letras, e só aqui você vive um romance perfeito.