Quero sentir de novo aquela antiga emoção de ter alguém chegando,
pra ninar meu coração. Quero me arrumar toda, me perfumar, colocar minha melhor
roupa pra receber alguém num sábado a noite. Eu quero sentir de novo o coração
pulsar descompassado quando a campainha tocar e eu sei que é quem eu to esperando.
Eu tenho sentido falta dessa coisa ritualizada que é ter alguém na sua vida. De
ter alguém que ligue, que se importe, que conheça sua família, que brinque com
seu cachorro, que saiba o caminho do seu quarto, que abra sua geladeira. Alguém
que saiba seu telefone de cor, que você durma de conxinha, que faça cafuné, que
cuide de você quando você tá naqueles dias.
Nunca pensei dizer isso, mas eu to sentindo
falta desse tipo de intimidade auto-destrutiva que a gente fabrica quando tá
apaixonado reciprocamente. Eu que sempre coloquei a solteirisse num pedestal,
num estado de felicidade continuo, agora tenho sentido falta de ficar em casa
num sábado a noite, vendo um filme e comendo pipoca. Outro dia me peguei com
vontade de sair pra almoçar com alguém num dia de domingo. Só pra bancar o
casal bonitinho que sai de mãos dadas, exibindo seus corpos jovens e bem
cuidados.
As baladas estão sem graça, os programinhas em grupo tão perdendo o
brilho que tinham quando eu entrei pra vida do “não devo nada a ninguém”, “to de
volta à ativa”, “ninguém me segura”. É sempre do mesmo jeito, as mesmas
músicas, os mesmos amigos com as mesmas conversas. Não tenho nem mais saco pra
dar foras nos carinhas de boate, com suas camisas apertadinhas, seu copo de
wisk na mão, com o mesmo papo de sempre, com a mesma falta de conteúdo.
Eu
quero uma risada cativa, um cheiro cativo, um corpo cativo, um aconchego
cativo. Quero olhar alguém dormindo e dar um sorriso maroto de quem está
satisfeito, quero me exibir por ai, de mãos dadas contando vantagem, quero a
coisa telepática de saber as intenções do outro só de olhar. Quero fazer essas
coisas de casais de novo, ir no supermercado juntos, ajeitar a gola da camisa,
opinar sobre o sapato, reclamar do atraso, planejar viagem, brigar por
besteira. Isso é amor, amor quente, como diz a música de Engenheiros.
Eu quero
uma ligação antes de dormir me perguntando sobre o meu dia, e mensagens de
texto com letras de músicas bonitinhas. Quero um elogio sem vergonha e planos
pras férias. Sinto falta do contato, de
falar sacanagem, de ouvir bronca e dar resposta à altura, de ciuminho besta, de
comprar presente sem ter data pra comemorar. Sinto falta de ouvir um “você tá
linda”, ou “adoro quando você veste essa roupa”.Sinto falta de ter pra quem
dedilhar meu violão. Eu gosto dessa
coisa íntima, mesmo que só agora eu admita isso. Eu gosto da rotina a dois, e
eu era muito boa nisso. Hoje eu confesso que quero ser, de novo, a metade da
maçã de alguém.