sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tão longe da próxima esquina.

Sexta, 15 de Outubro

Querido Leitor,



Eles conversavam desimportâncias. E ai, no escuro, no momento em que as almas alheias param, e passam à categoria de coadjuvantes, ele pegou suavemente no rosto dela, o virou lentamente e a beijou. E Ela deixou que aquilo acontecesse.  Nunca tinha passado por um momento tão mágico. E por uns instantes, ela viu ali uma possibilidade de viver algo especial que não partisse dela. Depois de tanto tempo sem ser conquistada, se sentiu como uma dama. Como se fosse cortejada por um príncipe. Quando se deu conta de si, a única coisa que conseguiu falar foi que ali não era o lugar. E depois de risos envergonhados, e algumas leviandades sobre sedução, eles mudaram de assunto. Até a despedida. E como tem situações em que a despedida pode ser maravilhosamente boa, aquela foi um exemplo disso. Ele ia entrar na próxima rua à direita, e ela iria para o outro lado. Eles se abraçaram e quando os rostos parearam, a respiração ofegou e ele perguntou afirmando se aquele era o lugar, sem esperar resposta. E aquela esquina presenciou um dos beijos mais românticos já protagonizados na história daquela rua. A esquina foi o lugar ideal, para uma história de poucos segundos. E numa união de bocas, olhos fechados e nenhum pensamento a vista, tudo se tornou silêncio e todos os expectadores invisíveis encheram os olhos ao ver a cena. Nenhuma desculpa, sem mais ou menos, tudo claro. Depois disso, nunca mais se voltou a falar do assunto. Foi o instante mágico mais singelo entre dois quase estranhos, que se conservou apenas na memória dos dois, pra que o tempo não levasse embora. E mesmo com tantas miragens, os dois tornaram-se uma verdade impossível, um crime perfeito, os dois culpados, e felizes por isso. Ele foi embora sem dizer adeus, e ela ficou sozinha e cheia de saudades sempre que aquela esquina indiscreta lhe sorria confidente, lhe enchendo de esperança de que ele um dia vai voltar. Ela só o queria por perto.

Com desilusão,
P.

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