quarta-feira, 13 de junho de 2012

(Mal)educação Sentimental



O problema é que é todo mundo igual demais. É que o mundo anda tão complicado, as pessoas andam tão superficiais, os relacionamentos andam tão plásticos, que eu me nego a participar disso. Não sei, acho que a culpa é dos ídolos que eu tenho, dos artistas que me viciei em ouvir, das coisas antigas que eu venero, e do signo, talvez. Quando cazuza dizia que “meus heróis morreram de overdose”, é disso que ele tava falando. É como se, agora, os meus heróis românticos e cheios de profundidade se tornassem cafonas nos dias de hoje, onde o que importa mesmo é a realização profissional, o carro do ano, a viagem dos sonhos. É como se, de repente, ter alguém não importasse tanto, como se fosse adjacente, como se sofrer por alguém fosse a maior burrice dos últimos tempos, como se as letras simplisinhas fossem o ápice da nova revolução ‘digital’, ‘econômica’, ‘sem complicações’.
Enquanto os novos jovens rebolam e descem até o chão com os novos ritmos eletrônicos, misturebas de funk, brega e sei lá mais o que, eu, cafona por natureza, me afundo ainda mais em clássicos, em rock antigo, em mpb. Tenho me sentido obsoleta, como se eu ainda insistisse em passar telegrama, quando todo mundo tecla compulsivamente seus i-phones, postando tudo que se passa em sua vida. Compartilhando e curtindo tudo e todo mundo. A coisa ficou sem filtro.
Mas a culpa é de Renato Russo, que me fez acreditar que eu sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. A culpa é de Cazuza que me ensinou a ser Medieval, que me fez repetir que as vezes eu amo e construo castelos, as vezes eu amo tanto que tiro férias e embarco num tour pro inferno. A culpa é de Roberto Carlos, com mais de mil canções que me fazem essa mal educada sentimental, sem jeito, sem concerto.
E quem vai entender isso? Como exigir que alguém saiba o significado de romantismo nesse novo mundo pequeno de tempo, de espaço, de sentimento. Nesse novo cenário onde tudo é careta, é piegas, é brincadeira, é poesinhazinha barata de pára-choque de caminhão. É burrice gostar de alguém, se dedicar a alguém, e sofrer por alguém então é o cúmulo nos dias atuais. É o atestado de otário em nível máster.
O que era amor vira paixão, o que era paixão vira curtição, que vira sacanagem, que vira status alternativo no facebook. Vira tudo piada nas rodas de amigos. Os carinhas se gabam de quantas menininhas traçaram, as menininhas se gabam do tanto de carinhas que beijou e agora suruba é normal. E ai vai ter um monte de gente que nem sabe definir seu estado civil, porque no fim das contas fica todo mundo com todo mundo e sozinho ao mesmo tempo. Um monte de coração acostumado a ter algo intenso que vira quase nada, porque no fim das contas, foi tudo uma brincadeira, um joguinho bobo mesmo. Porque brincar com corações deixou de ser perigoso e zona proibida, e passou a ser parque de diversões. Afinal, tá tudo certo, ninguém nunca morreu por causa disso.
Se você diz que gosta, você é carente. Se você assume que ta apaixonado, você é infantil. Se você sofre quando é largado, você é burro. É como se o que era dor virasse vaidade, e os sentimentos embaralhassem todos, porque qualquer demonstração de afeto virou draminha e sofrimento desnecessário. 
No fim das contas, o que sobra é um monte de gente desencontrada, com um monte de ‘quase’ relacionamentos na bagagem. Com um monte de medinhos de amar, de se dar, de ser feliz, de se dedicar. Ninguém confia mais em ninguém porque ela mesmo não é confiável, e vive por ai aprontando em terrenos de corações alheios. O que sobra é um monte de gente adestrado, com manual de instruções de como entrar e sair de relacionamentos sem se envolver (como se isso fosse possível), e o outro que trate de dar conta de si. Um monte de gente bem educado. Pra não amar ninguém. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário