terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Estilhaços de um discurso amoroso

Terça, 18 de Janeiro
Querido inventor do amor,



Nunca entendi muito bem o amor. E quando eu digo amor é "amor alheio", porque o meu faz todo sentido. O jeito de amar dos outros é o que realmente me intriga. Já vi tanta gente que diz que ama e eu não via esse amor, ele não era palpável como o meu costuma ser. Amor de dizer que é, não representa grande coisa, principalmente numa realidade em que todo mundo "ama" todo mundo.


Amor de sentidos sim, me parece mais real. Amor de paladar, de provar tantos outros amores e escolher um só, o mais gostoso. A visão, que louca, busca um colírio pros olhos e de tanto olhar tem a certeza qual amor é. Amor que ouve, e decora os timbres e facetas de tanto ouvi-lo, faz de alguém sinfonia e não se cansa de repeti-la sempre. O amor de perfumes, ou de apenas cheiro de pele. Aquele que conhece o aroma que sinaliza seu objeto de desejo, que sabe que ele pode ser usado por outras pessoas, mas nunca confunde o que anuncia a chegada de quem se ama. Amor de toque. Aquele de pele, de corpo, de sexo, e porque não seria amor?! É um amor que conhece, que sente, que sabe.


O amor dos outros é platônico, amor sem sentidos, sem reciprocidade. Pode até ser amor, mas eu o desconheço, porque amor correspondido é muito mais satisfatório. Também não entendo amor que abre mão da pessoa amada, que diz que deixa por amor. Como se diz amor algo que não é par?! Esses amores que se escondem atrás de adjetivos minimalistas e bondosos é uma desculpa de quem não que mais amar.


Amores novelescos, que enfrentam impossibilidades são irreais demais pra mim. Amor de verdade não precisa de tanto, é só questão de vontade. E as idas e vindas são sinais de amor, principalmente as voltas. São reafirmações de sentimentos que não morrem. Amor não é amor porque não há um outro sentimento que substitua. Não é paixão que perpetua, afeto e amizade endossadas de tempo e nem desejo súbito e instantâneo. Amor é simplesmente amor, a arte dos encontros, desencontros e reencontros, coisas que sinalizam vontade de ser par, sentimentos que se fazem em uníssono e não só "boca pra fora".


Amor é cacos de vidro, corações partidos, coisas que ficam de propósito. Quando não for isso, é apenas casualidade, mania, vício, não tem nada a ver com amor.


Com (in)dignação,
P.
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