domingo, 2 de janeiro de 2011

Mãe.

Domingo, 2 de Janeiro
Querido Leitor,






Minha mãe sempre foi tirana. E ela gostava de praticar isso com a gente. São incontáveis as vezes que ela nos impedira de sair, de viajar com os amigos, de dormir na casa de estranhos, de ficar até altas horas na TV ou no computador. E quando eu perguntava o porquê, ela sempre dizia que era minha mãe e eu tinha que obedecer. Os tempos vão passando e você vai percebendo que mesmo agindo tiranamente, as intenções dela eram boas. Hoje, um pouco mais crescida, ela ainda arruma um jeito de tiranizar um pouco a minha vida, mas sabendo que o principal eu já aprendi.
Nunca fomos amigas. Sempre mantivemos uma relação de mãe e filha, sem muitas afinidades, infelizmente. Mas hoje, devo muito do que eu sou a ela, e as vezes até me surpreendo em como os seus ensinamentos atormentam minha conduta.
Ela era e sempre foi dura na queda. Eu nunca consegui convencê-la a nada. Meu poder persuasivo nunca funcionou. Eu sempre odiei me sentir certa e ao mesmo tempo isso nada adiantar porque ela nunca dera o braço a torcer. Foi isso que a ajudou a crescer no mundo profissional. Ela sempre mantinha a ordem das coisas no trabalho. E era bonito ver o quanto as pessoas a respeitavam e a obedeciam, porque ela sempre tinha certeza do que fazer. Eu nunca dizia o quanto a admirava quando a via dando ordens, mas a verdade é que eu olhava e pensava em ser como ela quando crescesse.
Os excessos de cuidados vinham sempre acompanhados de muita exigência. Éramos obrigadas a fazer serviços domésticos, mesmo com empregada em casa. Eu me lembro que achava tudo aquilo ridículo e desnecessário, porque afinal não precisávamos. O fato é que hoje, fazemos tudo em casa e nos viramos muito bem, graças a isso. Olhando pro passado, vejo que era uma forma em que ela nos ensinava a ser humildes, e saber de tudo um pouco. Com uma mania sobre-humana perfeccionista, tudo que fazíamos podia ser melhorado, e por mais que fizéssemos sempre havia algo mais faltando fazer. Eu sentia muita raiva disso e muitas vezes chorava por nunca conseguir agradá-la por completo. Ela não estava certa, mas nos ensinou a procurar sempre fazer mais, fazer melhor, buscar a perfeição. Eu acabei herdando essa característica, talvez por convívio excessivo.
Ela errou muito na vida, como todo mundo. Eu via isso. Mas sentia que ela procurava lidar com isso, e se esforçava pra se perdoar. Recomeçar. Nunca concordávamos. Era impressionante. Muitas e muitas vezes ela dizia que eu tinha a opinião contrária só pra não parecer com ela. Ela era meu inferno astral, meu empata diversão, meu maior obstáculo e MINHA MÃE. E eu tinha que aprender a lidar com isso. E sei também que pra ela não era fácil lidar com uma adolescente com desejo de liberdade, opiniões próprias e com espírito questionador.
Sempre achei que ela fosse bipolar. Ou de lua. Algo instável demais pra eu entender. Algo além da minha capacidade de entendimento. Eu olhava, parava e pensava o quanto era difícil conviver com ela.
A verdade é que as duas eram orgulhosas demais pra pedir perdão, demonstrar afeto depois de uma briga ou admitir um erro. Mas eu sempre vi, todos esses anos, uma mulher forte, com ideias firmes e muito criativa. E por vezes eu a admirei em silêncio.
Minha mãe sempre teve muitos defeitos. E ainda os tem. E não vai mudar. Eu desisti a algum tempo de tentar entendê-la ou algo parecido. Decidi amá-la pelo que ela é, e aceitar suas decisões. Hoje, eu só tenho a agradecer as coisas que ela me ensinou. Direta ou indiretamente, eu aprendi a crescer com tudo que a vida nos traz, ser forte, vencer. Devo, além da minha vida, o meu aprendizado mais precioso. E só observá-la me ensinou muito. Conviver com ela, brigar, enxugar suas lágrimas e tê-la como mãe tem sido algo que vou guardar pra sempre.
Com Afeição submissa,
P.


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Um comentário:

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