quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Esse teu cigarro.

Quarta-feira, 14 de Dezembro

Querido, 




Você é uma das poucas pessoas que eu conheço que conseguem unir o politicamente correto com o proibido. Quem te vê com essa pose sóbria, cabelo penteado, óculos de grau e frases bem articuladas, não imagina o quão delinqüente você pode ser. Eu mesma, quase me deixo enganar quando você me impressiona com sua inteligência perspicaz, suas referências bibliográficas notáveis, seu gosto por MPB, com sua maturidade de homem de mais de vinte anos.  E agora, te vendo assim, meio Casanova, meio Don Juan de Marco, fumando esse Hollywood preto, e virando doses de tequilas na tora, não consigo te associar ao cara pacato que eu conheci. Não acho que o cara certinho é melhor que esse. Na verdade, esse teu lado meio vadio me atrai bem mais. Mas o que mais me instiga é o poder que você tem de coexistir dos dois jeitos. Ser o incorrompível no trabalho, não cometer erros ortográficos na internet, estar por dentro das notícias atuais, e ao mesmo tempo, pegar pesado na academia, se embriagar, e fumar. E dentre os seus venenos minimalistas, o que eu ainda não consegui digerir muito bem foi o cigarro. Quer dizer, como um cara tão esperto coloca pra dentro mais de mil toxinas, sabendo o mal que tudo isso faz? O teu cigarro estraga a dualidade rara que você construiu. Mas quer saber?! Eu acho extremamente atraente te ver fumando. Em todas as outras pessoas parece sujo, menos em você. Você fica olhando pro nada e realizando o ritual maldito de sugar e expelir fumaça, como se injetasse pensamentos perversos e colocasse pra fora os bonzinhos. Me faz pensar em misturas de ácidos, comidas afrodisíacas, drogas, rock and roll, sexo selvagem. Eu viajo na pose que você fuma. Parece o cara mais imbatível do ambiente, o mais poderoso, o mais viril. E pra mim, você é. Sinto a mistura do seu perfume com fumaça, o gosto de Halls da preta com toxinas à self-service, o cara certinho com o devasso que eu mereço, e ninguém consegue imitar isso.  Definitivamente, eu passei a admirar o cigarro depois de você. E admitir que cigarros não foram criados para acabar com os pulmões das pessoas, mas para dar o devido poder à quem é de direito. Eu odeio cigarro, mas adoro ver você fumar.

Com afeto,
P.

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