sábado, 3 de dezembro de 2011

Mixto Quente.

Recife, 03 de Dezembro

Querido M, 


Vai faltar chão pra nós dois. Vai faltar ar respirável, que não seja fumaça de cigarro ou ar condicionado. Vai faltar espaço, vamos empurrar os móveis, tirar a cama do lugar, quebrar alguns Suvinís que tiverem na estante. Vai faltar música que defina a intensidade disso tudo, e não vai ter verso certo pra contar essas nossas travessuras. Vai faltar expectador, luz, gravidade, quando a gente se encontrar. Vai faltar tempo pra pôr em prática todas as nossas idéias perversas, e quanto mais tempo a gente tiver, mais idéias vão surgir, mais tempo vai faltar. Vamos fazer um mixto quente de pele, suor, colchão, você e eu. Porque vai faltar nexo, mesa, roupa. Vai faltar previsão no horóscopo sobre o nosso amor. A lua estará minguante, e nem será tempo de Vênus. Vai faltar explicação, equação matemática, prova científica. A gente vai contrariar a física, que se danem as leis de Newton, os nossos corpos vão coexistir. Vai faltar água pra apagar o fogo dobrado dos nossos signos. E vai faltar quem não morra de inveja da gente. A gente vai beber água no copo da Mc'Donalds, e nem vai se importar se não tiver nada comível na geladeira. A gente vai viver um do outro. Vai faltar teto pro tanto de prazer que a gente vai ter junto. Os vizinhos vão ficar ouvindo as nossas risadas e tentando imitar a nossa felicidade. Vai faltar sono, televisão, telefone tocando. Quando a gente tiver junto, o mundo lá fora vai se dissolver num plácido desejo de que a gente continue, apenas. A gente vai se sentir completo, satisfeito, como quem mata a fome. Vai sobrar sentimento, cheiro de perfume, temperatura alta, você e eu. 

Saudades,
P.

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